sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Le Devot Christ , de Thomas Merton, prólogo ao livro Bread in the Wilderness (um exercício de tradução)



A fotografia estampada neste livro é a de um crucifixo famoso, venerado há séculos numa capela anexa à Catedral de Perpignan, no sudeste da França. Ninguém sabe quem esculpiu esta assombrosa obra-prima. Ninguém sabe ao certo de onde vem. Terá sido levada a Perpignan da Alemanha ou da Espanha? Ou terá sido, como crê a maioria, obra de um catalão anônimo que morava em Perpignan ou nas proximidades dos Pirineus? Qualquer que seja a origem do "Le Devot Christ", sem dúvida arte cristã alguma expressou tão poderosamente o sofrimento de Cristo na Cruz. É de fato o Cristo que o profeta Isaías descreveu  “como um rebento que sai de terra sequiosa”. É verdadeiramente o Cristo que Isaías anunciou: “não tinha graça nem beleza para atrair o nosso olhar, o seu aspecto não excitava o nosso amor. Era desprezado, o último dos homens, homem de dores, experimentado nos sofrimentos… Verdadeiramente foi ele que tomou sobre si nossas doenças, carregou com as nossas dores; nós o reputamos como um castigado, como um homem ferido por Deus e humilhado.”(53, 2-4). 

Este é também o Cristo do Salmo 25 e de outros que discutimos neste livro. É o Cristo da “noite escura” de que fala São João da Cruz. É o Cristo que compartilha Sua agonia com os místicos. Por fim, é o Cristo de nosso tempo -- o Cristo da cidade bombardeada e do campo de concentração. Vimo-Lo e conhecemo-Lo muito bem. Este Devot Christ é a imagem do que os homens de nossa era estão fazendo uns aos outros: porque eles estão matando-O no outro. Porém, porque muitos há nos quais Ele morre outra vez, muitos há nos quais ressuscita. Afinal, Cristo morre tão-somente para ressurgir dos mortos. 

Esta fotografia é por isso mesmo a imagem de nosso Redentor, o Salvador do mundo. Dele disse Isaías no mesmo quinquagésimo terceiro capítulo de sua profecia: “... foi ferido por causa das nossas iniquidades, foi despedaçado por causa dos nossos crimes; o castigo que nos devia trazer a paz, caiu sobre Ele, e nós fomos sarados com os Seus ferimentos. Todos andávamos desgarrados como ovelhas, cada um seguia seu caminho; o Senhor carregou sobre ele a iniquidade de todos nós.”

Não é de admirar que este Devot Christ seja buscado diariamente pelos penitentes e peregrinos no país catalão francês. Este crucifixo é reputado como miraculoso, que garante muitos favores a quem no possui em pura devoção -- ab los que tenan pura devocio. Conta-se-Lhe uma lenda a respeito: Acredita-se que todo ano sua cabeça curvada inclina-se pouco a pouco ao peito. Dizem os catalães que quando o queixo finalmente encostar-se ao peito, será o fim do nosso mundo.


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Meu texto sobre o romance de Elton Mesquita na revista Unamuno

 A revista Unamuno,  digo-o sem exagero, uma das melhores revistas do país, acaba de publicar meu texto sobre o romance Hesperio Garra de Aguilhão, de Elton Mesquita. Para ler artigo, prima o mouse aqui.

sábado, 8 de outubro de 2022

UM POEMA DE JOÃO FILHO DO LIVRO AO SUL DO LABIRINTO


 MIRANTE DE SANTO ANTÔNIO ALÉM DO CARMO

Não há vagas. E sempre não há vagas.
A vida está lotada e nós rodamos
e rodamos por vias tão amargas
(até as aves perdem seus ramos).

Nos estacionamentos, quem não paga?
A vida está sem crédito, em desânimo,
o débito dos  dias nos esmaga
entre carros que não estacionamos.

A tarde fragiliza corações,
nos pega em pleno trânsito sem brechas
(o medo escala sujos paredões);

uma buzina em outra se propaga,
 -- Não sabe dirigir! -- escuto a pecha,
pois não há vagas, sempre não há vagas.


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Fingir a dor que deveras sente – uma leitura de “Ao Divino Assassino” de Bruno Tolentino

Um ensaio sobre "Ao divino Assassino", de Bruno Tolentino, tal como a maior parte de nós conhecemos, e sobre uma variante deste poema que Tolentino escreveu nos anos 80, quando ainda não era dedicado à Anecy Rocha, e a relação com sua opera omnia, publicado na Revista Unamuno, cujo linque é este:

 https://unamuno.com.br/divino-assassino-bruno-tolentino/