terça-feira, 14 de dezembro de 2010

(OS DOZE PROFETAS), de Érico Nogueira

O tempo vos comeu as pontas
dos dedos, narizes e dos pés;
à medida que esculpia
vosso rosto e corpo desconformes
o autor esculpia o seu destino
no vosso e no tempo redobrado.

Há muitas armadilhas
no labirinto de dobras e de espelhos,
no labirinto do tempo; às vezes
nos ilude a semelhança; oculta,
a rima é profecia às vezes.


Este poema de Érico Nogueira com seus devidos comentários eu postara antes no mural do FACEBOOK. Graças à gentileza do poeta e de Adriana Invitti(Nem só do pão vive o homem, mas das palavras que vêm do Forno de Ensaio), agora tenho este blogue por tribuna e que leva o nome de uma seção à qual ainda na famosa rede social dei o nome de Antología personal, numa referência ao volume homônimo de Jorge Luís Borges. Aos poucos, resgatarei outros comentários e os postarei aqui de forma mais organizada.
 “Os doze profetas” é da terceira parte d’O livro de Scardanelli, subintitulada “Cadernos de exercícios”. Também é o terceiro e último da série “O espólio de Horácio”. Sobre esse livro de estréia tive a oportunidade de escrever um ensaio chamado O livro de Scardanelli:O esquadro da loucura, publicado no blogue Ars poética, do autor. Além desse ensaio, há outro bastante elucidativo escrito por Carlos Felipe Moisés e que figura no posfácio, além de outro muito instigante escrito por Ricardo Domeneck, ainda antes do seu lançamento.
Posso dizer com tranqüilidade que gosto de todos os poemas do Scardanelli. (Com a mesma tranqüilidade digo que, depois de Bruno Tolentino, tanto esse como Dois constituem as melhores realizações poéticas da atualidade. Ide e lede.) Se por um lado gosto de todos, sempre há aqueles pelos quais tenho mais afeto:  “Os Doze Profetas” é um deles.
Desde que o li, nunca parei de pensar nele e na delicadeza que o destaca dos demais. Tratar seriamente da morte confere essa delicadeza. É o que se vê, por exemplo, na primeira estrofe quando o artista faz revelar a própria mortalidade nas estátuas que cria. Outros há também que muito me impressionaram e sobre os quais falarei num momento oportuno. É um poema em alto relevo, concreto porque diz, e com a qualidade da melhor estatuária. Dessa qualidade também participam os versos da segunda parte, “La méditation”(Como é possível que a beleza grega/ da curva dos músculos, do tônus,/ possa se contorcer e ser um soco,/ pose para o desespero?). Essa qualidade estatuesca também se materializa no enjambement(o tempo vos comeu as pontas/dos dedos), que é uma amostra do uso funcional desse recurso: a plena coincidência entre o encerramento(corte)do verso e a aludida ação do tempo. Isso, sim, é uma ars poetica.

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