sábado, 10 de outubro de 2015

NOTAS 'SOBRE AS ALMAS QUE SE QUEBRAM NO CHÃO': ENTRADA ARROGANTE NO INFERNO E UM POUCO DE EUROPA ATUAL



Marco, um Dante doente de alma estragada, a conselho de Bocas, algo entre o demônio e um Virgílio invertido, prepara-se para mudar de endereço, ou seja, para o Fawela cuja descrição apresentada não no torna muito diferente do Hades. Embora empolgado com a possibilidade de viver num jardim de delícias, não quer sair da residência estudantil sem antes causar uma forte impressão em seu então companheiro de quarto, a quem detesta. O trecho reproduzido acima por sinal articula-se, leitor de Dostoiévski que nosso autor é, com estas passagens dolorosamente hilárias de O homem do subsolo(trad. Boris Schnaiderman, ed. 34, 2000):

...De repente, tive vontade de ofendê-los do modo mais atrevido e, depois, ir embora. Aproveitar o momento e mostrar quem sou; que digam: "É ridículo, mas inteligente..."p. 91
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Esforcei-me apenas em não olhar para nenhum deles; assumia as atitudes mais independentes e esperava com impaciência  que eles fossem os primeiros a dirigir-me a palavra. Infelizmente, eles não começaram. p. 93
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Eu sorria com desdém e fiquei andando  do outro lado da sala, ao longo da parede, bem em frente ao divã, fazendo o percurso da mesa à lareira e vice-versa. Queria mostrar com todas as minhas forças, que podia passar sem eles; no entanto, batia, de propósito, com as botas no chão, apoiando-me nos saltos. Mas tudo em vão. Eles não me dispensavam absolutamente qualquer atenção. Tive a pachorra de ficar andando assim, bem diante deles, das oito às onze, sempre no mesmo lugar, da mesa à lareira e da lareira de volta à mesa. "Estou andando assim, e ninguém me pode proibir de fazer isso." p. 94

(Leiam o que René Girard escreve sobre o assunto em Mentira romântica, verdade romanesca. Nessa obra, pois, ele faz uma leitura fascinante sobre o O homem de subsolo, de Dostoiévski. Leiam também minha palestra O belo e o sublime: pobre gente.)

Asif, o tal companheiro de quarto, é um muçulmano que domina o idioma alemão, muito íntimo dos mecanismos civilizatórios locais e, como lhe fosse muito pouco, tem um caso com uma  alemã que lhe é subjugada, a quem trata como a um boneco. Antes de prosseguirmos, eis um trecho em que o perfil do maometano é descrito: 

"-- Ele se julga um gênio!", achava Marco. "Tá certo que fala bem o alemão. Mas também, estudando Germanistik, letras e língua alemãs, até um mudo consegue". Também era sedutor, esperto: conquistara uma alemã, embora Marco não a achasse bonita. E o casal passava finais-de-semana inteiros com um aparelho de som ligado, de onde pipocavam canções folclóricas afegãs, as heratis. Era uma música melosa, acompanhada de alaúde e com tablas marcando o ritmo. E o afegão puxava, com uma voz chorosa que irritava Marco profundamente, gazais tristíssimos, como se fosse a qualquer hora desfalecer fulminado pela saudade da pátria arruinada. Marco jamais escutara a voz da alemã! Sabia que ela estava ali porque via seus tênis diante da porta do quarto do afegão, e este também cozinhava o tempo todo, ia e voltava da cozinha, batendo a porta, e ela lá, certamente sentada no chão atapetado, entre almofadas, inerte, submissa, feliz da vida.

Essa submissão é espelho de outras situações que se desenvolvem paralelamente: uma alemã se submete a um muçulmano; Marco, por sua vez, se submete aos caprichos de Bocas que também seduz os europeus com seu exotismo tão extravagante quanto priáprico e qual um demônio -- em recompensa pelo luxo das almas que lhe são oferecidas -- dá nada mais do que lixo, puro lixo e Marco, coitado, sequer consegue usufruir das sobras que Bocas deixa pelo caminho. Como se toda miséria se lhe fosse pouca, outro muçulmano se interpõe entre Marco e uma brasileira ricaça no interior do Brasil.
Voltando a Asif e sua alemã, uma Europa invadida por maometanos que dos legalizados aos refugiados cada vez mais ditam as regras, impõem suas leis absolutamente incompatíveis com os princípios cristãos, tornam cada vez mais as mulheres européias em sucedâneo das virgens que lhes são prometidas após a morte -- mesmo que para isso recorram ao expediente do estupro -- confirma a narrativa d'As almas que se quebram no chão, de Karleno Bocarro; o torpe ismaelita cavaleiro transforma, por fim, a Europa num quintal do Oriente Médio ou -- com o dócil consentimento e cumplicidade e, por que não, cooperação, dos líderes politicamente corretos europeus --,  no termo acertado do romance, está a transformar a Europa numa verdadeira Fawela.